AULA DE JORNALISMO PARA FICAR NA HISTÓRIA
O texto a seguir é cópia de uma mensagem que Marcelo Beraba (1951-2025) escreveu e fez circular entre os editores e pauteiros do Jornal do Brasil a partir das 13h30 do dia 7 de Abril de 1997, uma segunda-feira. Eu trabalhava em São Paulo, na sucursal do JB, como Gerente da Agência JB e, encantado com a preciosidade do texto, guardei uma cópia para a posteridade. Estava nos EUA quando soube da morte de Beraba, com quem eu tinha trabalhado no Grupo Folha de S. Paulo: ele como Editor Executivo e eu como Gerente da AF/Banco de Dados/UOL. Imediatamente me lembrei do texto do Beraba e, tão logo voltei ao Brasil, no dia 11/8/2025, busquei-o e o encontrei entre os meus guardados em casa, em São Paulo. E aqui compartilho com os leitores desta página, na esperança de que os Estudantes de Jornalismo (e os Professores, também) leiam, estudem, reflitam e tenham as palavras de Marcelo Beraba como lição, de Jornalismo e de Vida.
Agradecido,
Cláudio Amaral
Jornalista desde 1º de Maio de 1968 e Escritor especializado em Biografias + autor de cinco livros, entre eles O Cabo e o Jornalista (José Arnaldo 100 Anos) e Meus Escritos de Memória, ambos publicados pela Editora Patriani.
De: Beraba – Editor Executivo
Para: Cláudia-Editora Internacional; Alaor Filho-Editor de Fotografia; Mair Pena – Editor Política/BR; CORIOLAN – CADERNO DE ECONOMIA; Paulinho – Editor Esporte; Regina Zappa – Editora; Marcelo Carneiro – Editor
Cc: Marcelo Pontes – Editor; Perin – Secretário de Redação; Toti – Editor Executivo JB; Dupin; Fábio-Subsecretário Red.
Assunto: REUNIÃO DE PAUTA
Data: Segunda-feira, 7 de Abril de 1997 13h37
É impossível produzir um bom jornal sem uma boa pauta. As nossas reuniões de pauta da manhã têm sido uma pobreza irritante: os nossos coordenadores andam mal-informados, sem orientação de seus editores, sem pré-pautas preparadas nas véspera que sirvam de ponto de partida, sem tempo para leitura atenta dos jornais. Os reflexos dessa indigência está nas páginas dos jornais.
Não existe, na minha opinião, pauteiro com criatividade e experiência suficientes para brilhas todos os dias. A pauta, como tudo em jornal, é fruto de um trabalho coletivo e de metodologia. Alguns procedimentos de rotina evidentemente não estão sendo realizados e isto é visível nas reuniões da manhã. Vou repetir estes procedimentos para todos os editores voltem a conversar com suas equipes e preparem melhor seus pauteiros:
1 – Pré-pauta – É imprescindível que o editor ou de seus assistentes faça toda noite, após o fechamento, uma pré-pauta destinada a seu pauteiro. Esta pré-pauta deve conter indicações de pautas, providencias já tomadas (deslocamento de um repórter logo cedo para uma coletiva, p.ex) e, principalmente, orientações (prioridades, enfoques, assuntos novos a serem acompanhados). O pauteiro tem de estar super sintonizado com o seu editor, Para isso, é necessário que conversam ao longo do dia e que haja orientação por escrito na pré-pauta. Há dias em que decisões importante de cobertura são tomadas no fechamento da edição e o pauteiro da manhã não é informado.
2 – Pauta – Os pauteiros têm de chegar nas reuniões das 10 h com o noticiário dos grandes jornais relativos à sua área lido e com a pauta arrumada, hierarquizada. Para isso, além de ler os jornais terá de ter lido e organizado as pré-pautas de sua editoria + AJB + BSB + SP e eventualmente correspondentes.
Dá tempo? Tem de dar. Se não está dando tempo, vamos antecipar as entradas dos pauteiros. Lembro que o combinado com os editores foi o seguinte: 7h – Cidade, Política e Foto; 8h – Economia, Esportes e B; 9 – Internacional; 10h – Arte. Eu não vou ficar de babá de horário, suponho que sejam todos profissionais. Mas está na cara que vários pauteiros não estão conseguindo ler o noticiário e se preparar para a reunião.
Quanto à arrumação da pauta, pretendo fazer um seminário em breve. Mas desde já volto a lembrar que a pauta tem de ser hierarquizada: os assuntos mais importantes têm de ser vendidos primeiro e com mais detalhes e a pauta tem de ser uma pré-edição do jornal. Não pode ser um rol de assuntos sem valorização, vagos, imprecisos.
3- Reuniões – É indispensável reuniões regulares, semanais, dos repórteres com o editor, seus assistentes e, principalmente, com o pauteiro. São os repórteres que trazem da rua as ideias, sugestões, que estão antenados. Nós vivemos trancados na Redação, sem oxigênio. Se o pauteiro não tiver contatos formais (reuniões) e informais (conversas diárias) com os repórteres, dificilmente terá boas ideias.
Para mim, o resumo da ópera é o seguinte: o jornal está irregular e parte da responsabilidade desta irregularidade se deve à produção (pauta e planejamento); as pautas estão fracas porque os pauteiros estão abandonados por seus editores.
Como nem todos os pauteiros estão na lista de endereços do e-mail, peço que mostrem este comunicado para eles. Estou à disposição para dúvidas e divergências. Beraba(*)
(*) Marcelo Beraba faleceu no dia 28/07/2025 aos 74 anos. A causa da morte foi câncer no cérebro. Ele estava internado no Hospital Copa D'Or, no Rio de Janeiro. Foi um Jornalista brasileiro, conhecido pela atuação que teve em redações como as dos jornais O Globo, Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil e O Estado de S. Paulo. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2025/07/28/morre-o-jornalista-marcelo-beraba-um-dos-fundadores-da-abraji.htm#:~:text=Beraba%20sempre%20incentivou%20os%20jovens,defesa%20da%20liberdade%20de%20imprensa.
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