Como nasce uma pauta (1)


Cláudio Amaral

A sugestão é da minha Amiga Arminda Augusto, que divide comigo as responsabilidades dos Editores-Executivos de A Tribuna de Santos: contar como nasce uma pauta.

Nós dois somos Editores-Executivos de A Tribuna. Trabalhamos frente a frente um com o outro. E ela me fez essa sugestão quando eu contava a ela, na noite desta segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009, como nasceu a pauta que fiz ontem e que resultou numa reportagem publicada hoje, na página A-6 de A Tribuna.

Estava eu num dos bancos frontais da plateia da Igreja do Embaré, em Santos. Faltava um ou dois minutos para as 11 horas da manhã de ontem, domingo, 22 de fevereiro de 2009, quando o comentarista anunciou que aquela Celebração da Missa seria dedicada aos 50 anos de imigração de uma família que viera da Indonésia.

O tema imediatamente me chamou a atenção.

Não consegui entender o nome da família, mas fiquei atento. Olhei para a direita e para a esquerda, para frente e para trás. Sempre em busca de alguém que poderia pertencer à tal família indonésia.

Pouco tempo depois, olhando em diagonal para a esquerda, vi alguns rostos que me lembraram os orientais. Seriam eles? Fiquei em dúvida. Quase não levei minha ideia à frente, mas logo pensei:

- Que legal seria contar a história de uma família que veio de tão longe, há 50 anos e aqui está para comemorar o feito.

Terminada a Missa, dei um tempo e em seguida me aventurei. Abordei um cidadão que acabara de chegar. Ele tinha um capacete sob o braço esquerdo.

- Bom dia. O Sr. e eles são uma família?

Ele sorriu, me disse “sim” e começou a falar, antes mesmo que eu perguntasse o que estavam fazendo ali.

Animei-me e dele a ele um cartão de visitas que me identificava como Editor-Executivo de A Tribuna de Santos.

- Eu gostaria de fazer uma reportagem a respeito da sua família.

Ele sorriu novamente e me apresentou a um outro Sr.: Lie Liong Khing.

Apresentei-me a ele, também. E voltei a explicar o que eu queria:

- Gostaria de contar a história de sua família no jornal A Tribuna.

Ele aceitou de imediato.

Perguntei quem da família Lie morava em Santos e ele mandou chamar a irmã, Sra. Lie Ing Nio.

Fiz mais uma apresentação, expliquei novamente minha intenção e ela também concordou de pronto.

Bati as mãos nos bolsos da calça e no peito em busca de papel e caneta. Estava desarmado, infelizmente. Mas logo avistei papéis e mais papéis sobre uma mesa em que as pessoas escrevem intenções e pedidos a Deus antes da Missa.

Na mesa havia também uma caneta. E com eles – um pequeno pedaço de papel cor de rosa e uma caneta de tinta azul – escrevi o endereço e o telefone dela, em cujo prédio seria realizado o churrasco comemorativo aos 50 anos da chegada da família Lie ao Brasil.

Combinei que mandaria um fotógrafo e um repórter ao local: Rua Soares de Camargo, 60.

Sai saltitante de dentro da Igreja do Embaré. Saltitante e agradecendo a Deus pela coragem que ele me dera para buscar contato com a família Lie e garantir aquela pauta.

Pensei em ligar imediatamente para o jornal e passar a pauta para a chefe de reportagem Chris Lourenço.

Antes, entretanto, rumei para a casa do Amigo Mário Evangelista, Editor-Executivo do Expresso Popular, outro jornal diário do Sistema A Tribuna de Comunicação.

Mário e eu somos vizinhos no bairro da Aparecida, junto ao Canal 6, aqui em Santos.

Toquei a campanhia, fui atendido por Mônica, mulher de Mário, e entrei casa adentro, até encontrar meu Amigo sentado, tomando algo gelado e aperetivando um tira-gosto.

- Cláudião... que bom que você veio almoçar com a gente.

Sorri de orelha a orelha e disse a ele:

- Gatão: vim pedir sua autorização para ligar pro jornal e sugerir uma pauta...

Ele nem esperou eu terminar. Me mandou tomar naquele lugar, pegou o telefone e me passou, dizendo:

- Liga lá, sem frescura.

Liguei e falei com Felipe, um dos nossos estagiários. Pedi pela Chris, mas ela havia saído para o lanche. Ele me passou para Luigi Di Vaio, repórter especializado em Política e titular da coluna diária Dia a Dia.

Expliquei tudo a Luigi e ele logo sacou a importância da pauta e se apressou a dizer:

- Eu faço essa matéria.

Desliguei, mais feliz com que nunca.

Antes de sentar para o almoço eu ainda disse a Mário Evangelista:

- Taí uma pauta que eu gostaria de fazer.

Falei e esqueci do assunto.

Hoje, logo pela manhã, peguei o jornal e levei um susto: o assunto estava na primeira página:

“Indonésia – Após 50 anos, família celebra vinda a Santos”.

A reportagem, maior do que eu esperava, estava na página A-6, sob o título:

“Coração Verde e Amarelo – Família de indonésios celebra 50 anos de Brasil”.

Na assinatura, mais uma surpresa: Simone Queirós.

Já no jornal, por volta das 8h30, Chris Lourenço me explicou:

- Passei a pauta para a Simone porque o Luigi estava no meio de uma outra pauta e ela chegava ao jornal naquele momento.

Ato contínuo, abri o jornal na A-6, li o texto de Simone Queirós e... chorei.

À noite, ao contar a Arminda Augusto que havia chorado, ela me fez mais uma observação importante:

- Precisamos contar mais histórias como a desta família. História de gente. História emocionante.

Cláudio Amaral esteve Editor-Executivo n’A Tribuna de Santos de 1º/10/2008 a 16/6/2009

23/2/2009 23:28:01

Comentários

Nelson Urt disse…
Este é o Cláudio Amaral que tivemos a honra de conhecer em O Estado de Mato Grosso do Sul. Editor de coração aberto, que sai saltitante e alegre de uma igreja após levantar uma grande pauta. Aproveitem, caros amigos de A Tribuna de Santos. Esse cara sabe fazer jornalismo como poucos. Graças a Deus.

Nelson Urt, do Diário Corumbaense
Oi Cláudio

Me chamo Elaine. Barcellos. de Araújo. Hehehe. Vim retribuir a tua visita e fique sabendo que também gostei muito daqui. Agora vou fuxicar lá no outro.

P.S.:
1. eu também me emociono com histórias de gente
2. Olha, infelizmente não conheço a pesquisa sobre comunicação empresarial. Ou não estou lembrada. Tu tem acesso a ela?

Bjocas
Cláudio Amaral disse…
Oi, Elaine (Cor de) Barcellos (Rosa) de Araújo (e Carvão). Estou agradecido por sua visita e por seus comentários.
A pesquisa sobre "A História da Comunicação Empresarial no Brasil" é minha. Para ler, basta fazer uma pesquisa no Google.
Mesmo assim, se você quiser, eu te mando.
Beijos.
Até breve.
Cláudio Amaral

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