Minha primeira viagem internacional
Cláudio Amaral
Mesmo sendo, na época, monoglóta (ou monolíngue, como preferirem), fiz minha primeira viagem internacional no início de Novembro de 1973. Deixei o Brasil no dia 5 e voltei no dia 12, sempre pelo Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP). Estava com 23 anos de idade e cinco anos de Jornalismo. Fui pelo Estadão para a Itália. Eu e Deus, mas sempre com a ajuda dos Amigos.
Minha missão era acompanhar um seminário em que se discutiria o aproveitamento de partículas alimentícias extraídas da parafina do petróleo. Mas, como o assunto era muito difícil para um jovem caipira de Adamantina (SP), procurei escrever a respeito de algo mais interessante e por conta disso fui de penetra até a sede da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.
Mesmo sendo, na época, monoglóta (ou monolíngue, como preferirem), fiz minha primeira viagem internacional no início de Novembro de 1973. Deixei o Brasil no dia 5 e voltei no dia 12, sempre pelo Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP). Estava com 23 anos de idade e cinco anos de Jornalismo. Fui pelo Estadão para a Itália. Eu e Deus, mas sempre com a ajuda dos Amigos.
Minha missão era acompanhar um seminário em que se discutiria o aproveitamento de partículas alimentícias extraídas da parafina do petróleo. Mas, como o assunto era muito difícil para um jovem caipira de Adamantina (SP), procurei escrever a respeito de algo mais interessante e por conta disso fui de penetra até a sede da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.
É que entre uma conferência e outra pronunciada pelos
especialistas convidados pela matriz da Liquigás, a Liquichimica, eu me
dedicava a folhear os jornais italianos. Buscava algo que me permitisse
entender o que se passava pela Europa e fazendo uso das poucas palavras no
idioma de Michelangelo que havia decorado, ainda no Brasil, nos dois dias que
antecederam aquela aventura. E encontrei num daqueles diários uma pequena nota
a respeito de um encontro anual que a Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação promoveria por 20 dias, a partir de 10 de Novembro,
na capital italiana.
Fui de Metrô, do centro de Roma à sede da FAO, na Via
delle Terme di Caracalla. E aproveitei
para conhecer uma das linhas de transporte urbano mais antiga do mundo, de
acordo com o que me explicara, pacientemente, na Redação do Estadão, o Amigo
Itaboray Martins, um dos mais experientes repórteres da época.
A propósito, lembro-me como se fosse hoje que Itaboray
me fez a seguinte advertência: “Não vá fazer como muitos brasileiros, que
voltam de Roma dizendo que não gostaram porque na capital italiana é tudo muito
velho”.
Ao chegar à sede da FAO procurei logo o centro de
imprensa e lá conheci um brasileiro que era funcionário de carreira no
escritório da Organização, no Brasil: Cláudio R. P. Fornari. Ele facilitou tudo
para mim, a começar do credenciamento para acompanhar de perto todos os
trabalhos. Graças a ele eu tive acesso à delegação que representava o Brasil e
fiquei sabendo da homenagem póstuma que naquela conferência seria prestada a
Josué de Castro (nascido em Recife a 5 de Setembro de 1908 e falecido em Paris
a 24 de Setembro de 1973). Ele foi um médico famoso, que teve seus direitos
políticos cassados depois da instalação do Governo do Presidente Humberto de
Alencar Castello Branco, em 1964. Deixou nosso País logo após a cassação e se
exilou na Europa. Seu maior pecado era defender ideias revolucionárias com base
em estudos que fizera ao longo de muitos anos e publicara em livros que se
tornaram famosos, com destaque para Geografia
da Fome (1946) e Geopolítica da Fome
(1951).
A cada reportagem que escrevia no seminário das
proteínas extraídas do petróleo e na conferência anual da FAO, eu caminhava quilômetros
e mais quilômetros até a redação da Ansa (uma agência de notícias criada pelos
principais jornais da Itália). Preferia ir caminhando porque assim poderia
conhecer melhor uma das mais antigas capitais do mundo. Ao chegar à Ansa, pedia
que meus textos fossem transmitidos com exclusividade para o Estadão, em São
Paulo.
Lembro-me bem que no rodapé do último texto mandei um
recado para meu chefe de reportagem, Eduardo Martins, e para o editor de meus
textos, Carlos Conde: façam a gentileza
de mandar avisar minha Sueli, na Rua Nicolau de Souza Queirós, na Aclimação,
que em dois dias estarei em casa. E só quando cheguei, no dia 15 de Novembro
de 1973, fiquei sabendo do sufoco e apertos passados por minha mulher. Ela
havia ficado sozinha em São Paulo com a nossa pequena Cláudia Márcia, nascida
em Marília em Fevereiro daquele ano. Tudo bem que minha irmã caçula Clélia
morava na mesma rua e dera apoio às minhas meninas, mas isso não impediu que
Sueli ficasse intranquila e impaciente a semana que passei na Itália. Ela
chegou a temer que eu me encantasse com as belezas de Roma – e das italianas –
e não mais quisesse voltar para o Brasil. Felizmente isso não aconteceu e voltei.
E ao voltar vi no Estadão os textos que havia enviado desde a capital italiana:
FAO exorta o mundo a guardar alimentos
(O Estado de S. Paulo de 10 de Novembro de 1973 – página 18) e Brasil apoia livre comércio na FAO (O
Estado de S. Paulo de 11 de Novembro de 1973 – página 41, com chamada de
primeira página).
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