Dicas aos novos colegas
Sérgio Leitão
Especial para o Blogue Aos Estudantes de Jornalismo
Como nosso público-alvo é integrado, basicamente, por estudantes de jornalismo, sinto-me na obrigação de tentar passar um pouco de minha experiência para esses novos colegas. Primeiramente, quero parabenizá-los pela feliz escolha, porque bom jornalismo é uma cachaça. Não sei se deveria dizer que são conselhos porque, segundo se diz, “se conselho fosse bom ninguém daria de graça, cobraria”. Mesmo assim atrevo-me a tentar chamar a atenção para algumas dicas, que tanto podem nos propiciar uma grande alegria ou, por outro lado, nos fazer passar por um mico tremendo.
Aos novos colegas, um alerta: prepare-se, porque, no início, em que se rala muito, elogios por uma boa ação passam rápido, duram, no máximo, um dia. Agora, se você comete um erro, meu Deus do céu, se segura, pois certamente a redação inteira ficará sabendo e passará adiante, dentro daquela máxima que diz que notícia ruim corre mais rápido que um Ferrari.
Para começar, dou como grande exemplo de gafe homérica a que cometeu uma repórter de um grande jornal carioca. Convocada para entrevistar o veterano ator José Lewgoy (foto), que vinha se destacando numa novela da Globo, a moça foi toda serelepe, entusiasmada com a oportunidade. Papo vai, papo vem, ela soltou a pérola: “Sr. Lewgoy, o senhor tem vontade de fazer cinema?” Papagaio!, levando-se em conta que era reconhecido como o maior vilão do cinema brasileiro, nos tempos das chanchadas da Atlântida, e que participara de mais de cem filmes numa carreira que beirava 50 anos, Lewgoy decidiu dar um basta à entrevista ali mesmo, aconselhando a jovem, verdinha na matéria, a voltar ao seu jornal e procurar saber mais sobre ele na Pesquisa.
A entrevista acabou passando para uma repórter mais experiente. Só que, na redação, a foquinha passou a ser vista com uma certa dose de galhofa. Coitada dela! O fato, jovem, é que como novato na profissão você não é obrigado a saber tudo sobre tudo mas, vai por mim, ao ser escalado para uma entrevista ou para cobrir uma coletiva, perca um pouquinho de tempo, mas antes busque inteirar-se um mais sobre a pessoa a ser entrevistada ou sobre o tema da coletiva. Jamais deixe a soberba tomar conta de você.
Nessa era de Tempo Real, então, eu diria que a atenção precisa ser ainda mais redobrada. Como o entrevistado pode dar uma informação quente, para chegar na frente da concorrente, você terá que passar a notícia online à sua redação, é claro. Mas, tome cuidado. Antes de enviar a nota, certifique se entendeu o que disse o entrevistado. A pressa, às vezes, é a maior inimiga da perfeição. Deixe-me citar dois casos que aconteceram há alguns anos: o primeiro ocorreu durante a transmissão pela rádio de um jogo de futebol. Lá pelas tantas, o repórter entra na linha e pede ao locutor: “Fulano, tenho uma notícia triste a divulgar. Acabamos de ser informados que o grande lateral bicampeão do mundo Djalma Santos, lamentavelmente, faleceu num acidente de carro hoje à tarde, no Paraná”. O locutor, acho que era o grande Jorge Cury, recebeu a triste notícia e passou quase um minuto tecendo os mais variados elogios a Djalma Santos. Daqui a meia hora, entra o repórter de novo: “Fulano, agora trago uma notícia alegre. Não foi o nosso grande campeão Djalma Santos quem morreu. Foi outro Djalma Santos”. Só que, obviamente, ao afirmar que a nova notícia era alegre, ele esqueceu-se de que o Djalma Santos que morreu certamente também tinha família.
Um caso semelhante aconteceu com o grande piloto de Fórmula Um, o argentino Juan Carlos Fangio, cuja morte foi anunciada por uma agência de notícias e, pouco mais tarde, desmentida. O morto era um outro Juan Carlos Fangio, cujo nome seria uma homenagem ao campeão. Portanto, principalmente se você estiver trabalhando em uma agência de notícias, muito cuidado, porque sua informação pode ser recebida por uma emissora de rádio cliente de sua agência, que certamente logo a retransmitirá. Só que, nesse caso, até para se proteger, a emissora que divulgar dirá de onde provém a informação. Portanto, caberá à agência o ônus de ter que corrigir a informação. E isto é terrível para sua imagem.
Outro problema é quando um repórter participa de uma coletiva, cujo entrevistado fala em sua própria língua, através de um intérprete. Às vezes, o jornalista insiste em fazer suas perguntas na língua do entrevistado, sem fazer uso do intérprete, embora não domine o idioma do entrevistado. Lembro-me de um caso que aconteceu em 1984, durante a Federation Cup, torneio internacional de tênis feminino, que se realizou no Clube Pinheiros. Lá pelas tantas Kathy Jordan, do time dos Estados Unidos, perguntou que vôo mais rápido ela poderia pegar para o Rio de Janeiro, pois queria conhecer a cidade maravilhosa antes de voltar pra casa. Foi aí que o repórter, com seu inglês mais falso que uísque paraguaio, deu a dica: “it´s easy, you can take the air bridge!” Ela não entendeu e, a princípio, nem eu. É que ele traduziu “ponte aérea” literalmente. Só que, em inglês, ponte aérea é shuttle service. Fecha o pano! Em resumo, o repórter pagou um mico de envergonhar um frade de pedra.
Para encerrar, eu diria que, para ser um bom jornalista, é preciso, primeiro, ter vocação; segundo, ter ética; terceiro, ter tesão pela profissão. Posso garantir que, com essas três valências, dependendo também de sorte, você tem tudo para vencer na profissão. Passa a ter credibilidade, fundamental para qualquer profissional que zele por sua imagem.
E que profissão gostosa, a que você escolheu! Uma última dica: se puder, tente fazer estágio na editoria Geral, pois é lá onde se aprende as nuances do dia-a-dia. É como na Medicina, onde primeiro você busca aumentar os seus conhecimentos como clínico geral. Os internos geralmente são colocados na linha de frente - a Emergência. Só mais tarde se busca especialização na matéria que mais lhe interessar.
Portanto, todos a bordo e boa sorte!
Especial para o Blogue Aos Estudantes de Jornalismo
Como nosso público-alvo é integrado, basicamente, por estudantes de jornalismo, sinto-me na obrigação de tentar passar um pouco de minha experiência para esses novos colegas. Primeiramente, quero parabenizá-los pela feliz escolha, porque bom jornalismo é uma cachaça. Não sei se deveria dizer que são conselhos porque, segundo se diz, “se conselho fosse bom ninguém daria de graça, cobraria”. Mesmo assim atrevo-me a tentar chamar a atenção para algumas dicas, que tanto podem nos propiciar uma grande alegria ou, por outro lado, nos fazer passar por um mico tremendo.
Aos novos colegas, um alerta: prepare-se, porque, no início, em que se rala muito, elogios por uma boa ação passam rápido, duram, no máximo, um dia. Agora, se você comete um erro, meu Deus do céu, se segura, pois certamente a redação inteira ficará sabendo e passará adiante, dentro daquela máxima que diz que notícia ruim corre mais rápido que um Ferrari.
Para começar, dou como grande exemplo de gafe homérica a que cometeu uma repórter de um grande jornal carioca. Convocada para entrevistar o veterano ator José Lewgoy (foto), que vinha se destacando numa novela da Globo, a moça foi toda serelepe, entusiasmada com a oportunidade. Papo vai, papo vem, ela soltou a pérola: “Sr. Lewgoy, o senhor tem vontade de fazer cinema?” Papagaio!, levando-se em conta que era reconhecido como o maior vilão do cinema brasileiro, nos tempos das chanchadas da Atlântida, e que participara de mais de cem filmes numa carreira que beirava 50 anos, Lewgoy decidiu dar um basta à entrevista ali mesmo, aconselhando a jovem, verdinha na matéria, a voltar ao seu jornal e procurar saber mais sobre ele na Pesquisa.
A entrevista acabou passando para uma repórter mais experiente. Só que, na redação, a foquinha passou a ser vista com uma certa dose de galhofa. Coitada dela! O fato, jovem, é que como novato na profissão você não é obrigado a saber tudo sobre tudo mas, vai por mim, ao ser escalado para uma entrevista ou para cobrir uma coletiva, perca um pouquinho de tempo, mas antes busque inteirar-se um mais sobre a pessoa a ser entrevistada ou sobre o tema da coletiva. Jamais deixe a soberba tomar conta de você.
Nessa era de Tempo Real, então, eu diria que a atenção precisa ser ainda mais redobrada. Como o entrevistado pode dar uma informação quente, para chegar na frente da concorrente, você terá que passar a notícia online à sua redação, é claro. Mas, tome cuidado. Antes de enviar a nota, certifique se entendeu o que disse o entrevistado. A pressa, às vezes, é a maior inimiga da perfeição. Deixe-me citar dois casos que aconteceram há alguns anos: o primeiro ocorreu durante a transmissão pela rádio de um jogo de futebol. Lá pelas tantas, o repórter entra na linha e pede ao locutor: “Fulano, tenho uma notícia triste a divulgar. Acabamos de ser informados que o grande lateral bicampeão do mundo Djalma Santos, lamentavelmente, faleceu num acidente de carro hoje à tarde, no Paraná”. O locutor, acho que era o grande Jorge Cury, recebeu a triste notícia e passou quase um minuto tecendo os mais variados elogios a Djalma Santos. Daqui a meia hora, entra o repórter de novo: “Fulano, agora trago uma notícia alegre. Não foi o nosso grande campeão Djalma Santos quem morreu. Foi outro Djalma Santos”. Só que, obviamente, ao afirmar que a nova notícia era alegre, ele esqueceu-se de que o Djalma Santos que morreu certamente também tinha família.
Um caso semelhante aconteceu com o grande piloto de Fórmula Um, o argentino Juan Carlos Fangio, cuja morte foi anunciada por uma agência de notícias e, pouco mais tarde, desmentida. O morto era um outro Juan Carlos Fangio, cujo nome seria uma homenagem ao campeão. Portanto, principalmente se você estiver trabalhando em uma agência de notícias, muito cuidado, porque sua informação pode ser recebida por uma emissora de rádio cliente de sua agência, que certamente logo a retransmitirá. Só que, nesse caso, até para se proteger, a emissora que divulgar dirá de onde provém a informação. Portanto, caberá à agência o ônus de ter que corrigir a informação. E isto é terrível para sua imagem.
Outro problema é quando um repórter participa de uma coletiva, cujo entrevistado fala em sua própria língua, através de um intérprete. Às vezes, o jornalista insiste em fazer suas perguntas na língua do entrevistado, sem fazer uso do intérprete, embora não domine o idioma do entrevistado. Lembro-me de um caso que aconteceu em 1984, durante a Federation Cup, torneio internacional de tênis feminino, que se realizou no Clube Pinheiros. Lá pelas tantas Kathy Jordan, do time dos Estados Unidos, perguntou que vôo mais rápido ela poderia pegar para o Rio de Janeiro, pois queria conhecer a cidade maravilhosa antes de voltar pra casa. Foi aí que o repórter, com seu inglês mais falso que uísque paraguaio, deu a dica: “it´s easy, you can take the air bridge!” Ela não entendeu e, a princípio, nem eu. É que ele traduziu “ponte aérea” literalmente. Só que, em inglês, ponte aérea é shuttle service. Fecha o pano! Em resumo, o repórter pagou um mico de envergonhar um frade de pedra.
Para encerrar, eu diria que, para ser um bom jornalista, é preciso, primeiro, ter vocação; segundo, ter ética; terceiro, ter tesão pela profissão. Posso garantir que, com essas três valências, dependendo também de sorte, você tem tudo para vencer na profissão. Passa a ter credibilidade, fundamental para qualquer profissional que zele por sua imagem.
E que profissão gostosa, a que você escolheu! Uma última dica: se puder, tente fazer estágio na editoria Geral, pois é lá onde se aprende as nuances do dia-a-dia. É como na Medicina, onde primeiro você busca aumentar os seus conhecimentos como clínico geral. Os internos geralmente são colocados na linha de frente - a Emergência. Só mais tarde se busca especialização na matéria que mais lhe interessar.
Portanto, todos a bordo e boa sorte!
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