LAURENTINO GOMES NO MASTER: PUBLICAR LIVROS EXIGE INVESTIMENTOS PESSOAIS


Cláudio Amaral (*)

Laurentino Gomes não esperou que a aposentadoria lhe caísse no colo. Mesmo sabendo que teria os benefícios de quem ocupava cargo de destaque entre os executivos da Editora Abril. Em 2008, resolveu correr todos os riscos possíveis e imagináveis – e até os inimagináveis –, pediu demissão e se arriscou numa empreitada própria: escrever livros a respeito da história do Brasil, mesmo não sendo historiador, como faz questão de dizer. E não se arrepende. Até porque hoje ganha mais do que o polpudo salário que tinha na ocasião desta importante decisão.


Na terceira vez em que esteve no IICS, sexta-feira, 26/4/2013, a convite do Professor Carlos Alberto Di Franco, diretor de Comunicação do Instituto Internacional de Comunicação Social, Laurentino Gomes falou de suas experiências aos alunos do Módulo 2 do Master em Gestão Estratégica e de Marcas. Se declarou paranaense de nascimento, ituano de coração e admirador do trabalho do Master: “Creio que o Master preenche muito bem as lacunas do Jornalismo ensinado nas nossas faculdades”.

A contribuição que Laurentino Gomes se dispos a dar naquela tarde ele disse ser a “de um observador do mundo das comunicações”. Explicou que é um leitor atento e “pai de uma jornalista que está com muita dificuldade de entrar no mercado de trabalho”. Acrescentou ser interessante que ainda o chamam de jornalista, de doutor – “o que não sou” – e também de professor. E explicou: “Sempre insisto em me nominar jornalista”.

Desde que deixou a reportagem, “que fiz até 2008”, Laurentino Gomes continua “fazendo jornalismo”. E nisso ele inclui os dois primeiros livros a respeito da história do Brasil – 1808 e 1822 –, lançados com sucesso de mídia e de público. Há dois anos, intercalando um ano e meio de pesquisa no Brasil e nos Estados Unidos, muita leitura de livros, jornais e revistas impressos e digitais, ele tem um novo conteúdo pronto.

“Mas qual é o formato?”, perguntou Laurentino Gomes, inclusive a agente literária (e esposa) Carmem. A decisão foi lançar em todas as mídias possíveis o conteúdo de 1889, que ele classifica como “o último volume da série” e no qual promete “explicar porque o país permaneceu como a única monarquia das Américas por mais de 67 anos”, assim como “mostrar como foi a Proclamação da República”.

Todas as mídias a que Laurentino Gomes se refere incluem “livro para adulto com 24 capítulos, audio livro para mais de um milhão de portadores de deficiência visual, para quem não gosta de ouvir rádio no trânsito das grandes cidades, para os jovens que não apreciam leitura destinada a adultos, e-book com novos meios de distribuição e também site em português e inglês”.

Quando tudo isso estiver pronto – explicou Laurentino Gomes aos alunos do Módulo 2 do Master em Gestão Estratégica e de Marcas – chegará a hora de o autor “botar os pés na estrada”. Ele garante que fará mais ainda do que fez por ocasião do lançamento de 1822, quando compareceu a pelo menos 50 eventos em três meses e meio.

O objetivo é “se aproximar do público leitor”, diz o dublê de jornalista e escritor. E mais: “Dar muitas entrevistas, falar em escolas de todos os níveis, comparecer a feiras literárias”. Mas sempre com muito cuidado, pois Laurentino Gomes não quer ser visto como inconveniente. “Meu objetivo é falar só quando tiver novidade”.

Em resposta às perguntas dos alunos do Master, ele lembrou que o atual cenário da mídia “é assustador”, tanto no Brasil quanto no mundo. Lamentou o fechamento de uma de suas revistas preferidas, a Newsweek, e lembrou que um amigo baseado no Rio de Janeiro lhe disse na véspera que “a crise é do CGC e não do CPF”, referindo-se às pessoas jurídicas e físicas, respectivamente. E acrescentou que “há uma enorme fragmentação do mercado publicitário e mudanças de hábitos dos leitores”.

Ainda assim ele disse acreditar que, “mesmo sendo o cenário muito difícil, o conteúdo continua a representar o poder do jornalista e do repórter e não tem crise”. E explicou o por quê: “O jornalista, como orientador e formador de opinião, continua tão ou mais essencial do que sempre foi”.

Analisando especificamente o mercado brasileiro, Laurentino Gomes disse: “No Brasil, demoramos mais do que o normal para reagir às mudanças do mercado e dos leitores. Tanto que estamos produzindo poucas reportagens e muitas opiniões. Por isso, falta explicar o que está acontecendo”.

Em seguida ele falou da experiência de ter vivido com Carmem na Universidade da Pensilvania, nos Estados Unidos. E disse que lá recuperou “o hábito da leitura”. E folheando diariamente o The New York Times viu “quantas reportagens bem-feitas, sobre os mais diferentes assuntos” eram publicadas num dos maiores jornais do mundo. “E opiniões também”, acrescentou. “De volta ao Brasil”, explicou, “continuei lendo o New York Times e acabei de fazer uma assinatura pelo iPhone”.

Laurentino Gomes explicou aos alunos do Master que essa não é a única fórmula de leitura que o “encanta muito”. E citou outras: o National Geographic, que disponibiliza conteúdos em vários formatos, e The Guardian, que permite inclusiva a formação de comunidades.

Para ele, os próximos anos serão dificeis, mas Laurentino Gomes diz começar a ver luz no fim do túnel. E citou mais um exemplo do que viu nos EUA: grupos de jornalistas produzem conteúdos e publicam em blogues, por exemplo, informações a respeito de política, economia, lazer, cultura, moda e beleza, entre outros assuntos.

De volta ao cenário nacional, ele citou dois exemplos que se mostram promissores: o das Organizações Globo e da RBS, que, na opinião de Laurentino Gomes estão usando diferentes mídias e encontrando soluções positivas para despertar o interesse do público.

Especificamente a respeito do “bom jornalismo e da boa reportagem”, Laurentino Gomes recomendou: “Tem que haver planejamento”. E detalhou: “O jornalista tem que sair da redação sabendo que fim terá a sua reportagem”. Para ele, “certo grau de segurança é indispensável”.

Falando diretamente aos jornalistas que desejam seguir o caminho que ele está trilhando, o autor de 1808, 1822 e de 1889 disse que por vezes o acaso salva o autor. E explicou que o primeiro capítulo do próximo lançamento foi escrito depois que o livro estava pronto e a partir de uma sugestão de um nobre residente em Portugal.

Depois de afirmar que é “muito metódico”, Laurentino Gomes disse que tem dia que vai para o computador e nada consegue produzir. “Ai eu vou passear com o cachorro, jogar água no jardim e fazer outras coisas que nada têm a ver com o texto do futuro livro”. E só volta a escrever no dia seguinte, “quando trabalho em dobro”.

Ficção? Não. Laurentino Gomes garante que isso não faz parte dos seus livros. “Tudo é baseado em realidade”. Ele explicou mais: “Gosto muito de parar no personagem e descrevê-lo”. Foi esse o caso, por exemplo, do marechal Deodoro da Fonseca, que estava doente, esperava uma carruagem para a Proclamação da República mas foi a cavalo mesmo. Um animal que estava tão velho que foi aposentado no dia seguinte e passou anos sendo alimentado do bom e do melhor, mesmo não trabalhando mais.

Antes de terminar a conversa com os masterianos, na tarde de 26/4/2013, Laurentino Gomes explicou que não fica apenas na dependência dos editores. E explicou que faz “investimentos pessoais”. Paga inclusive os serviços de assessoria de imprensa. E também as pesquisas junto aos pontos de venda, cujos dados dão a agente literária Carmem instrumentos para pressionar canais de distribuição dos livros.

“Estou muito feliz. Estou muito animado”, finalizou Laurentino Gomes.

(*) Jornalista e masteriano da turma de 2003

(26/04/2013 21:49:12)

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