Aos Chefes, com carinho


Mario Rocha, especial para o blogue Aos Estudantes de Jornalismo (*)

Sempre ouvi que experiencia se vive, não se ensina. Mas nada mais útil do que receber um mapa do caminho já percorrido por outros.

Vou aproveitar esse espaço para tentar passar, aos novos jornalistas, experiencias que aprendi com chefes, pessoas que já trilharam o caminho e fizeram algumas marcações.

"O importante é conhecer gente".

Um dos meus primeiros chefes me disse isso. Acreditei, mas não levei MUITA fé. Jovem, impetuoso, acreditava que meu currículo e meu conhecimento seriam suficientes.

Ledo engano. Currículo, boa formação, ética profissional e constante aprimoramento são fundamentais.

Mas o importante é conhecer gente. Não da maneira escrota, conseguir vaga através do famoso QI, quem indica.

Mas para quem contrata, saber o histórico da pessoa é muito importante, principalmente num meio como o nosso, onde não lidamos exatamente com questões exatas. É muito difícil ter ideia se um jornalista é bom ou ruim apenas pelo currículo. Só se conhece no dia a dia.

Todo emprego que consegui na área foi através de conhecer gente. Claro, meu currículo importava.

Mas no nosso meio a entrevista de emprego raramente é apenas com o contratado. Quem contrata também entrevista ex-colegas do candidato.

Comecei a estagiar na TV Manchete porque meu professor de faculdade era editor executivo do Jornal da Manchete. Eu mostrei "trabalho" durante a faculdade e fui recompensado com um trabalho. 

Na Manchete, mostrei trabalho, corri atrás. E uma colega que também trabalhava na então TVE me indicou para uma vaga lá. 

Quando soube que tinha uma vaga com meu perfil na Globo, me candidatei e dei como referência alguns ex-colegas de TV Manchete. A pessoa que me entrevistou também ligou para eles.

O que importa é conhecer gente.

Fiz contato profissional e depois uma amizade com o então ancora e editor-chefe do Jornal da Cultura, Celso Zucatelli. Quando a TV Record transferiu ele para Nova York, 7 anos depois, ele me indicou para ser o produtor da emissora na cidade. Porque me conhecia. Conhecia meu trabalho.
Mesmo aqui, nos EUA, o que importa é conhecer gente.

Eu saí da Record e comecei a mandar currículos para emissoras americanas.

Fui chamado para algumas entrevistas, mas, para eles, eu era um coringa. Alguém sem
histórico profissional por não conhecer muita gente por aqui.

Em 2013, eu passei 3 semanas na CNN, em Atlanta, e fiz algumas amizades. A Record é afiliada da CNN e continuamos a trabalhar juntos. Coloquei o nome do funcionário da CNN com quem mais eu lidava, pessoalmente e profissionalmente, no meu currículo.

Dei sorte. Para uma das vagas a que me candidatei, o chefe tinha trabalhado 10 anos na CNN e conhecia o Paul, a minha referência. Ele ligou para o Paul, que falou muito bem de mim.

Consegui a vaga.

Se o nome do Paul não estivesse no meu currículo, talvez não tivesse sido contratado.

No nosso meio, o que importa é conhecer gente.

(*) Mario Rocha é Jornalista formado em 1998 pela PUC-Rio. Desde 2008 está a trabalhar nos EUA, onde passou pela TV Record e a partir de 2017 trabalha em Washington DC como produtor na CGTN (China Global Television Network)


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