Santo de casa não faz milagre

Cláudio Amaral

No texto anterior, eu o encerrei com uma pergunta:

"E por que eu procurei um jornal de outra cidade - Marília, no caso - e não uma publicação jornalística de minha cidade, Adamantina?"

E acrescentei: "Como está tarde, deixo esse assunto para o próximo texto".

E aqui estou eu, tarde da noite, para dar seqüência a este assunto.

Pois bem: como "santo de casa não faz milagre", tive que procurar o Jornal do Comércio de Marília para dar início à minha carreira como jornalista.

Em Adamantina, onde nasci, haviam dois jornais e de um eu me lembro bem: O Adamantinense. Do outro, tenho vaga idéia: O Diário? Não posso garantir que o nome era esse.

Mas, de um fato eu tenho absoluta certeza: procurei os donos dos dois e expliquei que queria ser jornalista.

Resposta: "um dia, quem sabe, talvez".

Diante disso, escrevi para a Folha de S. Paulo. Resposta: "já temos correspondente em Adamantina".

"É mesmo?", me indaguei. Sim, porque, por mais que eu lesse a Folha todo dia, no escritório em que trabalhava, jamais havia visto uma referência sequer a Adamantina. Anos depois fiquei sabendo que a Folha tinha um agente na minha cidade. Correspondente, de verdade, não.

Conclusão: perderam a Folha e os dois jornais de Adamantina, ganhou o Jornal do Comércio de Marília.

Ah!!! Depois que eu comecei a escrever para o JC e a dar furos nos jornais de Adamantina - sim, porque o Jornal do Comércio de Marília era diário e os adamantinenses, semanários - fui convidado a produzir para as publicações locais. E, claro, não aceitei. Diplomaticamente, tirei o corpo fora.

Isso, é bom que se diga, não foi privilégio meu. Muitos jornalistas que conheço também tentaram entrar na profissão pelos jornais locais, mas não conseguiram. Somente depois que começaram a publicar - e, alguns, a fazer sucesso - em jornais de outros centros, eles foram chamados a voltar às origens. Uns, voltaram. A maioria, não.

Portanto, aqui fica um recado aos estudantes de Jornalismo: se os jornais de suas cidades não quiserem vocês, dêem de ombros e busquem outros centros. De preferência, maiores.

(*) Cláudio Amaral é jornalista desde 1º de maio de 1968. Trabalhou no Estadão, Correio Braziliense, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, O Estado de MS, TV Morena/Globo (ambos em Campo Grande) e Comércio da Franca, entre outros veículos. É Master em Jornalismo para Editores pela Universidade de Navarra, Espanha, no Centro de Extensão Universitária (www.masteremjornalismo.org.br), em São Paulo. Atualmente, se dedica a preparar jovens jornalistas para o mercado de trabalho. E-mail: clamaral@uol.com.br.

25/2/2008 01:01:27

Postagens mais visitadas deste blog

Eduardo Martins, o Mestre

A cobertura policial nos tempos de Ramão Gomes Portão

James Dean, mito há mais de meio século