Zé Hamilton e o diploma

Cláudio Amaral

Em entrevista antológica veiculada no Protagonistas da Imprensa Brasileira de 20/12/2006, o repórter José Hamilton Ribeiro, um dos maiores nomes do Jornalismo brasileiro de todos os tempos, foi claro e direto: o diploma não é importante para o jornalista.

Analisando a qualidade dos jornalistas que trabalham na Folha de S. Paulo, Zé Hamilton disse: “Então, o material humano do jornalista hoje é cem vezes melhor”.

“Agora”, acrescentou Zé Hamilton, “se você me perguntar: o diploma é importante para o jornalista? Eu digo assim: não”.

Para o ex-correspondente da revista Realidade na Guerra do Vietnã, “o diploma é importante para o País”.

E para nós, jornalistas, Zé? “Para o jornalista pouco faz se precisa ou não diploma. Mas se o País exigir que para ser jornalista o cara tem que fazer quatro anos de universidade, o jornalista sempre será melhor do que era no meu tempo, em que o jornalista era recrutado a troco de um prato de comida”.

Zé Hamilton perguntou na ocasião aos entrevistadores Eduardo Ribeiro, Wilson Baroncelli e André Carbone: “Porque quem era jornalista?” E ele mesmo respondeu: “Era o cara que entrava como porteiro, como office-boy, como motorista. Posso até citar os nomes. Audálio Dantas(*)... Ele entrou na Folha como ajudante de laboratório, era um auxiliar de laboratório. O Gil Passarelli, que foi o fotógrafo mais importante da Folha, entrou como motorista e depois passou para porteiro. O Percival de Souza(**), entrou como office-boy”.

E hoje, Zé? “Hoje o cara começa com quatro anos de universidade”.

E isso é bom ou ruim, Zé? “Olha, para o País é melhor ter um jornalista com essa formação do que um pobre diabo que vai buscar emprego a troco de um prato de comida”.

Na mesma entrevista veiculada no Protagonistas da Imprensa Brasileira, Zé Hamilton revelou: “Uma vez, quando eu estava na diretoria do Sindicato dos Jornalistas, cheguei a propor numa assembléia que arranjássemos meios, uma lei que restringisse o número de vagas em escolas de jornalismo, para não haver esse excesso de oferta. Isso não é ruim para a empresa, e sim para o ser humano que entra com a ilusão de uma profissão e depois não tem emprego, não tem guarida nela. Para as empresas é muito bom que haja a superoferta. Eu achava que cada Estado deveria ter um número de vagas proporcional ao mercado existente. Mas levei uma vaia tão grande... Aí fico pensando: será que é correto isso continuar acontecendo, sem que o Estado tome qualquer providência? Acho isso uma crueldade”.

A seleção seria natural, Zé? “Então, se houvesse menos vagas, essa seleção já estaria no vestibular. Aqueles poucos que conseguissem se formar quase que certamente teriam trabalho. Eu acho que está acontecendo no jornalismo é o reforço dessa atividade lateral que é a assessoria de comunicação, consultoria. É uma coisa lateral e que está crescendo muito. E que não deixa também de ser um trabalho digno. Mas não é bem jornalismo, é outra coisa”.

Em tempo: as perguntas grifadas em azul representam intromissões minhas na entrevista de Zé Hamilton ao Protagonistas.

Cláudio Amaral
Jornalista Profissional registrado no Ministério do Trabalho sob o número 9.887 e matriculado no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo sob o número 4.186

17/2/2008 21:32:19

Comentários

Anônimo disse…
ler todo o blog, muito bom

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